"...Mas o quociente de dor que a gente sofre já não é chocante o bastante para não precisar de uma amplificação ficcional, que dê às coisas uma intensidade que é efêmera na vida e que por vezes chega a passar despercebida? Não para algumas pessoas.
Para umas poucas, muito poucas, essa amplificação, que brota do nada, insegura, constitui a única confirmação, e a vida não vivida, especulada, traçada no papel impresso, é a vida cujo significado acaba sendo mais importante..." (Philip Roth, Fantasma Sai de Cena).

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

O peso ou a leveza?

Se você tiver bons livros em seu livreiro, sempre poderá abrir algum aleatoriamente e encontrará, em uma página escolhida a esmo, algumas palavras que se encaixarão com o momento vivido. É uma teoria. Pra mim, funciona.

“O mais pesado fardo nos esmaga, nos faz dobrar sob ele, nos esmaga contra o chão. Na poesia amorosa de todos os séculos, porém, a mulher deseja receber o peso do corpo masculino. O fardo mais pesado é, portanto, ao mesmo tempo a imagem da mais intensa realização vital. Quanto mais pesado o fardo, mais próxima da terra está nossa vida, e mais ela é real e verdadeira.

Por outro lado, a ausência total de fardo faz com que o ser humano se torne mais leve do que o ar, com ele voe, se distancie da terra, do ser terrestre, faz com ele se torne semi-real, que seus movimentos sejam tão livres quanto insignificantes.
Então, o que escolher? O peso ou a leveza?”
(Milan Kundera. A insustentável leveza do ser).

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terça-feira, 11 de agosto de 2009

as palavras estão flutuando

O título desse post era para ser "Coming back to life", por causa da música do D. Gilmour e porque este blog está literalmente voltando à vida. Do limbo siliencioso para onde havia sido enviado (pelos compromissos sempre exaustivos, inadiáveis e de sentido questionável) está voltando à vida. Mas resolvi mudar o título para "as palavras estão flutuando", porque comecei a escutar Across the Universe (Beatles) e desejei que, daqui pra frente, as palavras pudessem flutuar da minha mente para o mundo. Como se minha mente fosse um rio e o mundo o oceano onde ele deságua.

Mas sei que não vai ser assim. Não conseguimos manter a liberdade idealizada por muito tempo, pois, ao fim e ao cabo, desejamos estar presos. A prisão do trabalho, do estudo, das convenções sociais, é o que nos serve de referência, já que as pessoas constroem suas vidas a partir disso, ou rumando para isso...

Acabo de me lembrar de Drummond: "Preso a minha classe e a algumas roupas, vou de branco pela rua cinzenta. Melancolias, mercadorias espreitam-me. Devo seguir até o enjoo? Posso sem armas revoltar-me?"

Estamos presos a nossa classe e a nossas roupas, como estamos presos ao nosso compromisso de sermos normais, de sermos aceitos. Mesmo não sendo exatamente quem somos de verdade. E sem a arma da descoberta de si não conseguimos nos revoltar.

"Todos os homens voltam para casa. Estão menos livres mas levam jornais e soletram o mundo, sabendo o que perdem".

Sabemos o que perdemos. As perdas reais e as imaginárias. Mas nem sempre sabemos o que ganhamos.

Desculpem o prejuízo ao nexo...

Como disse, as palavras estão flutuando... voltando à vida... flutuando....

Lost in thought and lost in time
While the seeds of life and the seeds of change were planted
Outside the rain fell dark and slow
While I pondered on this dangerous but irresistible pastime
I took a heavenly ride through our silence
I knew the moment had arrived
For killing the past and coming back to life