"...Mas o quociente de dor que a gente sofre já não é chocante o bastante para não precisar de uma amplificação ficcional, que dê às coisas uma intensidade que é efêmera na vida e que por vezes chega a passar despercebida? Não para algumas pessoas.
Para umas poucas, muito poucas, essa amplificação, que brota do nada, insegura, constitui a única confirmação, e a vida não vivida, especulada, traçada no papel impresso, é a vida cujo significado acaba sendo mais importante..." (Philip Roth, Fantasma Sai de Cena).

domingo, 24 de outubro de 2010

Quem deixa ir tem pra sempre

Vou escrever esse post e ignorar solenemente o fato de estar há um mês sem escrever nada por aqui. Essa uma das vantagens de ser o déspota de um feudo de palavras: ignorar certos fatos quando nos convém.

Enfim, The Division Bell possui uma faixa bastante conhecida: Lost for words. Hoje escutei dois versos que ficaram: To martyr yourself to caution/Is not going to help at all.

Trocando ideias em um almoço aprazível sob as árvores, fiz uma ligação desses versos com um capítulo que li há tempos no livro "Nudge" (obra que, adianto, não é de autoajuda e vale a pena). Basicamente o capítulo falava sobre um experimento em que se comprovava que a perda de um objeto gera uma tristeza maior do que a alegria de ganhá-lo. Nas palavras do livro: "De maneira geral, a tristeza pela perda de algo é duas vezes maior do que a alegria proporcionada pelo ganho dessa mesma coisa".

Daí, concatenando essas ideias com outras duas ou três que não estou a fim de mencionar (realmente estou despótico hoje), fiquei pensando como o medo da perda é: (1) inútil, pois na maioria das vezes não impede que a perda aconteça; (2) e, pior do que isso, às vezes é justamente o medo que traz a perda, pois de tão preocupados em nos apropriamos para sempre de certas coisas (ou pessoas, ou momentos) nos tornamos pessoas inseguras e menos divertidas.

Bem, olhos postos no novo pôr-do-sol que ganhei de presente, e com versos da Apanhador Só, encerro esse post comemorativo de um mês de silêncio:

"... quem deixa ir tem pra sempre.
(...)
A pressa esconde o que já é evidente.
Foi do meu lado que eu achei o que me fez assim
Tão diferente..."