"...Mas o quociente de dor que a gente sofre já não é chocante o bastante para não precisar de uma amplificação ficcional, que dê às coisas uma intensidade que é efêmera na vida e que por vezes chega a passar despercebida? Não para algumas pessoas.
Para umas poucas, muito poucas, essa amplificação, que brota do nada, insegura, constitui a única confirmação, e a vida não vivida, especulada, traçada no papel impresso, é a vida cujo significado acaba sendo mais importante..." (Philip Roth, Fantasma Sai de Cena).

domingo, 20 de setembro de 2009

Coisas simples (abraçando o insólito)...

Coisas simples podem nos deixar muito felizes. E quando nossas opções são drasticamente reduzidas pelas contingências, as coisas mais elementares se tornam preciosas.

Hoje, 20 de setembro, domingo, saí de casa à procura de uma churrascaria. Sabia que as condições não eram favoráveis a meu objetivo. Apesar da data comemorativa, apesar de ser domingo, e apesar de uma churrascaria ser algo elementar neste Estado... tudo falta no meu povoado, e cri não seria diferente dessa vez.

Porém, quão mais difícil for a procura, tão mais recompensador será o encontro.

De fato, me vi à frente de um estabelecimento insólito. Passei de carro bem devagar, para ver se conseguia vislumbrar as condições do interior, mas não consegui enxergar nem uma fresta, pois.... havia dois cavalos estacionados bem à entrada do local!

Não posso deixar de registrar que pensei: Deus, que é isso?

Mas, como dito, nada como a falta de opções para nos fazer abraçar o insólito. Entrei e não me arrependi. Comida boa, pessoas simpáticas. Algo promisssor.

Daí para esse post transcorreram apenas uma hora e duas taças de vinho (de garrafão, of course)... e talvez essa mensagem não seja compreendida além dos limites desse feudo, mas é muito bom encontrar um lugar decente para comer em um dia como hoje...

Coisas simples... simplesmente tornadas especiais pela lógica maluca da vida...

"... And wished for comfort when in need
Now I'm here in a state of grace
This earthly heaven is enough for me..."

terça-feira, 8 de setembro de 2009

A gente nunca sabe

Vi um documentário. Sobre o Waldick Soriano. Não foi por falta de opções à disposição. Depois da partida da ilha metafórica, já disponho de mais de 3 canais.

Interessante deixar-se surpreender por algo tão inusitado quanto... Waldick Soriano.

Em determinado momento, ele disse:

"A gente nunca sabe onde vai chegar....
... e como vai chegar..."

De fato, já pensei algumas vezes: "gostaria de saber onde isso vai dar..."

Quis conhecer, de antemão, o resultado de alguma investida.

Mas nunca me perguntei: "como eu vou estar, ao final disso tudo?"

Daí, Waldick me fez concluir que, via de regra, tentamos visualizar o desfecho de nossas ações, mas não temos como praxe pensar no custo pessoal dessas mesmas ações, nem cogitamos as intercorrências que - embora não impeçam a obtenção do resultado almejado - nos modificam tanto que o próprio resultado já deixa de ter o sentido e o valor originalmente concebidos.

Resumindo, talvez seja mais importante chegar bem do que apenas chegar.

E, se não é possível prever e controlar tudo quanto possar interferir no atingimento de um objetivo, talvez seja possível, pelo menos, controlar as nossas condições pessoais no decorrer da empreitada, possibilitando que, no final de determinado projeto, não estejamos tão alienados, esgotados ou modificados, a ponto de já não ver sentido na conquista alcançada.