"...Mas o quociente de dor que a gente sofre já não é chocante o bastante para não precisar de uma amplificação ficcional, que dê às coisas uma intensidade que é efêmera na vida e que por vezes chega a passar despercebida? Não para algumas pessoas.
Para umas poucas, muito poucas, essa amplificação, que brota do nada, insegura, constitui a única confirmação, e a vida não vivida, especulada, traçada no papel impresso, é a vida cujo significado acaba sendo mais importante..." (Philip Roth, Fantasma Sai de Cena).

terça-feira, 13 de abril de 2010

Se não quiséssemos ser tão bons....

Se não quiséssemos ser tão bons, poderíamos ser muito melhores.

(Freud, aqui com leve alteração na ordem)


Confesso que escrever no blog tem sido difícil para mim nos últimos tempos. Em primeiro lugar, porque estou dedicado a uma empreitada profissional (ia escrever "vocacional") sem precedentes na minha vida. Em segundo lugar...

Bem, não posso afirmar com certeza qual é o outro motivo que vem me impedindo de me dedicar a essa atividade que, nos tempos de Ilha Metafórica (parece que isso foi há uma reencarnação atrás!), me foi tão especial.

Mas diria que tem a ver com um alto grau de autoexigência que venho me impondo recentemente. Explico.

Recentemente, passei por uma mudança de cidade (again) e por uma mudança de atividade profissional - embora ambas as mudanças ainda não tenham se consolidado e não sejam definitivas.

O fato é que essas mudanças configuraram uma passagem para uma posição que exige maior responsabilidade, ao menos sob um prisma bastante específico: o profissional.

E essa responsabilidade a ser assumida talvez venha exercendo uma pressão invisível na conformação de meu próprio espírito, engendrando, digamos assim, uma nova versão de mim mesmo: uma versão que se autoalimenta de uma cobrança exagerada por uma excelência de resultados nos mais diversos âmbitos.

É como se a exigência de maior responsabilidade em uma esfera específica (a profissional) se desgarasse do universo burocrático a que deve ficar confinada e estendesse seus tentáculos sobre áreas de minha vida em que não é preciso (e nem se deve) ser tão sério, nem tão responsável... como aqui nesse blog...

(Insight:)

Conviver com nossas limitações parece significar conviver com as limitações ao nosso desejo...

Não sei se coloco um ponto de exclamação ou de interrogação nessa frase, mas ela me faz refletir sobre a autoexigência, a autocobrança por um desempenho exemplar.

Talvez isso decorra de uma miopia pessoal que me faça imaginar que um ser sem limitações de capacidade ou desempenho seja um ser sem limites para seu desejo. Como se, ao superar alguma limitação que nos caracteriza (e nos torna humanos), derrubássemos uma barreira ao nosso desejo, de forma que a eliminação total de nossas imperfeições nos colocaria em total contato com o que desejamos. Nos colocaria, finalmente, na posse do que mais queremos...