"...Mas o quociente de dor que a gente sofre já não é chocante o bastante para não precisar de uma amplificação ficcional, que dê às coisas uma intensidade que é efêmera na vida e que por vezes chega a passar despercebida? Não para algumas pessoas.
Para umas poucas, muito poucas, essa amplificação, que brota do nada, insegura, constitui a única confirmação, e a vida não vivida, especulada, traçada no papel impresso, é a vida cujo significado acaba sendo mais importante..." (Philip Roth, Fantasma Sai de Cena).

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Dylan, Morrison e eu

Eu sou muito influenciável. Muito impressionável. Suscetível demais a coisas interessantes. Sejam pessoas, filmes, músicas, ou, no caso, livros.

Quando me deparo com alguma dessas fontes irradiadoras de adoração ou culto, me sinto um barco à deriva, levado por uma força muito, muito, maior.

Estou falando do impacto que me causou, aliás, está me causando, ler o livro On The Road, do Jack Kerouac. Quem já leu o livro, deve estar pensando: é só mais um sofrendo o impacto.

Não duvido disso. Aliás, a repercussão da obra está muito bem registrada nas palavras do Eduardo Bueno - que introduziu e traduziu a edição de bolso da L&PM. Olhem só:

"...nenhum livro deste século terá deflagrado uma revolução comportamental maior que a obra de Kerouac".

E muito mais contundente é a seguinte afirmação:

"Bob Dylan fugiu de casa depois de ler On the road (...) Jim Morrison fundou The Doors".

Dylan e Morrison. Depois disso, nada mais é preciso dizer sobre o impacto cultural do livro.

Mas, voltando ao que dizia inicialmente, eu me senti extremamente suscetível ao enredo acelerado e viciante do livro: tive vontade de implementar uma revolução tal na minha vida que equivaleria a fugir de casa, mesmo já morando sozinho....

Tudo isso porque a vida me impressiona, porque as infinitas possibilidades não vividas parecem como mil vidas desperdiçadas, como mil caminhos não trilhados e mil pessoas jamais conhecidas...

E, tendo isso dentro de si, não há como não se sentir impulsionado rumo à vida, ao ler uma obra em que o desapego do protagonista pelos padrões da vida sensata e socialmente aceita é apenas a parte menos importante... A parte mais importante para Sal Paradise (o protagonista) não é a rejeição ao seu status social, nem mesmo é a rejeição a qualquer standart cultural ou à lema político-ideológico, mas é tão-só a busca pelo contato mais íntimo com a vida, pelo conhecimento mais empírico sobre o mundo.

Não sei a que o livro me levará, mas sua força impulsora já está em mim...

"How does it feel
To be on your own
With no direction home
Like a complete unknown?"

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