"...Mas o quociente de dor que a gente sofre já não é chocante o bastante para não precisar de uma amplificação ficcional, que dê às coisas uma intensidade que é efêmera na vida e que por vezes chega a passar despercebida? Não para algumas pessoas.
Para umas poucas, muito poucas, essa amplificação, que brota do nada, insegura, constitui a única confirmação, e a vida não vivida, especulada, traçada no papel impresso, é a vida cujo significado acaba sendo mais importante..." (Philip Roth, Fantasma Sai de Cena).

domingo, 3 de maio de 2009

Adeus, Ilha Metafórica*

O amor tem de nos alimentar e nos consumir ao mesmo tempo. Se só alimenta, enche; se só consome, esvazia. Pensando assim, creio que tive uma relação de amor com a Ilha Metafórica, pois ela me alimentava (de espaço e ócio) e me consumia (com idéias e planos).

Esse blog, por exemplo, foi concebido e gestado na Ilha. Nasceu sob o signo da solidão, e deu seus primeiros passos nos amplos campos que se estendiam à vista da janela de meu apartamento...

Hoje não moro mais na Ilha.

E vejo claramente a diferença que faz: ainda estou cheio de idéias e planos, mas aquele espaço todo e aquele ócio ficaram para trás.

Hoje meus horizontes estão próximos demais; e o tempo é premente. Isso comprime meu ser, fazendo com que eu me sinta um compartimento pequeno para tantos acontecimentos.

Sei que depende de mim encontrar um lugar no mundo que me alimente e me consuma, como o amor que perseguimos.

É isso que me faz caminhar.


“Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo....
Por isso a minha aldeia é grande como outra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...

Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista a chave,
Escondem o horizonte, empurram nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a única riqueza é ver”.

(Alberto Caeiro, em "O Guardador de Rebanhos").


*A Ilha Metafórica nunca foi conceituada neste blog (nem precisaria), mas foi mencionada pela primeira vez no post do dia 24 de janeiro de 2009.

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