Atordoado.
Saí do cinema atordoado. Acabo de ver “Depois de Lucia”, filme do
mexicano Michel Franco. A adolescente Alejandra sofre todo tipo de violência
física e psicológica de seus coleguinhas de colégio:
sádicos oriundos de
famílias-pequeno-burguesas-encabeçadas-por-pais-negligentes-e/ou-igualmente-sádicos.
Alejandra engole a seco a perseguição; ama seu pai que
recentemente perdeu a esposa (mãe de Alejandra); quer
protegê-lo.
A
condução do filme é exímia: os diálogos
com o diretor do colégio e com o investigador da polícia
são um golpe na boca do estômago, e o soco inglês
vem como a burocrática ineficácia de um sistema que não
sabe lidar com a barbárie cotidiana praticada por esses
animais que habitam os estabelecimentos de ensino. O ronco grave do
motor da caminhoneta do pai de Alejandra, ao perseguir um dos algozes
da filha, acelera o coração do espectador de sentidos
menos embotados.
O filme
só confirma minha teoria: o ser humano é por natureza
sádico.
Comprazer-se
com o sofrimento alheio é ínsito às criancinhas
(que adoram machucar umas as outras, p. ex.), instinto inexplicável
pela teoria da evolução, que só cessa pela
intercessão firme e incondicional de pais presentes e que
tragam em si essa interdição que, por sua vez, um dia
receberam de seus pais...
Incrivelmente,
rodam os créditos do filme e ouço no escuro vozes de
espectadores jovens - de cabelos desgrenhados e aquele jeito descolado de “se hay
gobierno soy contra” - que só conseguem formular uma
afirmação rasa e impertinente: de que não lhes
parecer plausível que uma adolescente (no caso, Alejandra)
sofresse tanto sem relatar as sevícias a seu pai...
...Comentário da amplitude de suas visões bitoladas!
Vejam o
filme e me digam se há implausibilidade em uma jovem vulnerável e enlutada ser escolhida como objeto do sadismo de seus colegas.
E, de
mais a mais, que importa Alejandra silenciar sobre o que lhe acontece (embora sejam evidentes seus motivos)???
O que importa é o que
lhe é imposto, e não seu silêncio...
Enfim, há
que ser cego para não ver o que é mostrado como cerne do filme:
o sadismo, cada vez mais sem contenção, cada vez mais
divulgado (e visto) no you tube, cada vez mais superior aos
meios de sancionamento, desses jovens sem ética, sem moral e
sem humanidade, que um dia se tornam adultos de iguais predicados...
Boa dica, vou procurar! Me interessa saber o porque das pessoas serem assim com as outras.
ResponderExcluirNão é nos jovens sem ética, sem moral e sem humanidade que está o problema. Esses jovens representam o sintoma de algo que não vai bem, que nao vai bem há muito tempo... são seus pais o problema. Esses pais permeados de insegurança e egoicamente fragilizados o problema maior... como cortar esse circulo vicioso,repleto de sadismo, inconsequencia e sem respeito é uma questao.
ResponderExcluirMto interessante! Irei assistir!
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