"...Mas o quociente de dor que a gente sofre já não é chocante o bastante para não precisar de uma amplificação ficcional, que dê às coisas uma intensidade que é efêmera na vida e que por vezes chega a passar despercebida? Não para algumas pessoas.
Para umas poucas, muito poucas, essa amplificação, que brota do nada, insegura, constitui a única confirmação, e a vida não vivida, especulada, traçada no papel impresso, é a vida cujo significado acaba sendo mais importante..." (Philip Roth, Fantasma Sai de Cena).

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Perguntas musicais que não querem calar - parte I

A arte, às vezes, diz mais que a filosofia; e a música, como expressão de arte, tem um poder ilimitado de tocar no essencial da condição humana.

Da série, perguntas musicais que não querem calar (ora inaugurada), Travis e Moby acertam em cheio aqueles momentos de céu cinza em nossa vida. A banda escocesa, em música que leva o nome da pergunta, indaga: "Por que sempre chove em mim?"

"Why does it always rain on me?
Is it because I lied when I was seventeen?
Why does it always rain on me?
Even when the sun is shining
I can't avoid the lightning"

Além da pergunta oportuna, a resposta é dada em forma de hipótese indicativa de culpa: "será que é por que eu menti quando tinha dezessete anos?" 

Acreditar que erros do passado nos perseguem não raramente indica um sentimento de culpa mal resolvida, uma sensação de débito para com o mundo... Ideias como essa, se não analisadas, eventualmente desembocam em condutas de auto-sabotagem - aqueles eventos em que "misteriosamente" nos colocamos em situação de risco desnecessário, ou nos causamos prejuízo gratuito.

A música continua, e indica que há um "homem invisível" segurando o protagonista, impedindo seu crescimento e felicidade:

"I can't stand myself
I'm being held up by an invisible man
Still life on a shelf when
I got my mind on something else"

"Homem invisível", sem muita elucubração  simboliza o inconsciente - parte invisível de nós mesmos, atuando continuamente em nossas ações.

Logo, nutir inconscientemente um sentimento de culpa é como estar preso por si mesmo, impedindo-se de acessar a felicidade, e expondo-se continuamente à chuva, mesmo quando os dias são ensolarados...

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