Em "E agora, aonde vamos?" é resgatado o papel do feminino enquanto força que amaina e domina a brutalidade do gênero masculino. A sacada das dançarinas que acampam no vilarejo evoca que Afrodite é capaz de derrotar Ares. Que a sedução emanada da beleza feminina, com seus mistérios e sutilezas, tanto é capaz de transtornar marmanjos quanto lhes apaziguar o coração, deixando entrever que o princípio de amar e ser amado se sobrepõe e elimina em grande parte o princípio do ódio, seja religioso ou de outro fundamento...
Abram-se parênteses: ao sair do cinema, também não é possível deixar de pensar o quanto as desgraças da história e os piores momentos da humanidade foram gestados e executados por integrantes do gênero masculino; e cogitar se o mundo não seria mais pacífico se habitado apenas por mulheres... Fechem-se parênteses.
Já no segundo filme, uma das protagonistas, aquela chamada Nawal Marwan (a genitora falecida), em posição oposta às protagonistas do primeiro filme, se desinveste do poder apaziguador e encantador ínsito ao gênero feminino, e assume um papel que 99% das vezes cabe aos homens: o de assassino de sangue frio.
Mas, mesmo assim, Nawal Marwan ainda é mais humana que o resto do homens à sua volta, pois engolfada pelo absurdo de uma guerra civil, e levada a cometer um crime por conta da dor que essa mesma guerra lhe impingiu, reúne forças para, próxima à morte, redimir-se perante seus filhos, impondo-lhes a tarefa de desvendarem a história de sua mãe, que vem a ser uma parte da história tristíssima do país em que nasceram.
A verdade a que o encargo imposto no testamento conduzirá os filhos de Nawal Marwan, à semelhança do que ocorre na história de Édipo, cega e transtorna, mas depois liberta e salva, em clara mensagem de que não há dignidade para aqueles que não conhecem sua própria história.
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