"...Mas o quociente de dor que a gente sofre já não é chocante o bastante para não precisar de uma amplificação ficcional, que dê às coisas uma intensidade que é efêmera na vida e que por vezes chega a passar despercebida? Não para algumas pessoas.
Para umas poucas, muito poucas, essa amplificação, que brota do nada, insegura, constitui a única confirmação, e a vida não vivida, especulada, traçada no papel impresso, é a vida cujo significado acaba sendo mais importante..." (Philip Roth, Fantasma Sai de Cena).

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Nove de chão

Como escrevi tempos atrás (vide o post "Adeus, Ilha Metafórica"), eu estava de mudança.

Hoje estabeleci residência em minha nova cidade: "Faltante".

Faltante não é exatamente feia, não é exageradamente pequena, nem tampouco é ruim de se morar.

O que chama atenção nela é uma estranha falta que paira no ar. Não são os semáforos (não há), não são os elevadores (não há), não são as imobiliárias (não há)... aqui falta algo mais, algo indecifrável e intangível, que perpassa toda a cidade como a névoa que baixa nos dias frios (e sempre é frio).

Mas o curioso é que meu anfitrião na cidade - que dela está se despedindo, após 4 meses de estada - me disse:

_ A cidade não é ruim; o único problema dela são os nove de chão...

Nove de chão são os quilômetros que se percorrem em uma estrada de chão batido pra chegar até aqui.

Essa afirmação me chamou atenção e me fez pensar: tomara que em breve em também possa afirmar, convicto, que a única coisa que falta à Faltante é o asfalto nos nove de chão...

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