Como
tenho de viajar muito, para manter-me próximo de meus afetos,
tenho por rotina
percorrer
no mínimo uns mil quilômetros por mês.
Como
quisesse ocupar melhor essas horas vagas à direção,
pensei em algo mais instrutivo que escutar Robert Plant dizendo “me
aperte até o caldo começar a escorrer pela minha perna”
(posso criticar, porque sou fã – Led Zeppelin II, The Lemon
Song). Parêntese: alguém já disse que Jimmy Page
levou um ano para compor a música de Stairway to Heaven, e
Plant fez a letra numa ida ao banheiro... Assim como alguém
também já chamou esse grande vocalista de "Senhor dos
Anéis Erótico", por misturar esoterismo com sacanagem em
suas letras.
Fechado
parêntese, dizia que resolvi incrementar instrutivamente minhas viagens. Assim, baixei uma porção de arquivos de áudio do site
“Universidade Falada” (http://www.universidadefalada.com.br/). Dentre eles, o “ABC da Mitologia”, do grego
VIKTOR D. SALIS (ele mora no Brasil e fala muito bem português
– http://www.viktordesalis.pro.br).
Após ouvir esse arquivo (download gratuito), interessei-me pelos textos de Salis, e baixei outros arquivos de áudio deste autor (a preços módicos).
Explicando
aos poucos, porque ninguém quer perder tempo lendo um post de
vinte parágrafos (tempo líquido, diria Bauman...),
posso dizer que numa das palestras, Salis revisita o mito de Édipo,
do qual, confesso, só conhecia um esboço da versão
apresentada pela psicanálise moderna.
Ao
recontar o mito, Salis explica que Édipo (o de pés
inchados, pois lhe foram furados os pés ao nascer), é
um descendente da linhagem dos Labdácidas, e que seus
ascendentes há muito haviam sido amaldiçoados (a árvore
genealógica de Édipo remonta o casamento de Cadmo e
Harmonia, pelo qual os deuses do Olimpo buscaram restaurar o
convívios entre imortais e mortais – a propósito,
leiam o livro de Roberto Calasso sobre isso).
Édipo
mata seu pai biológico Laio (ao qual não conhecia) em
uma confusão envolvendo direito de passagem de carroças
sobre uma ponte. Isso mesmo, umas das primeiras mortes causadas por
motoristas esquentados! Hoje em dia, briga em acidente de trânsito
é cenário comum, mas quem diria que Édipo
mataria seu pai por motivo tão prosaico?
Após
isso, Édipo, que estava em fuga de sua cidade natal
(justamente para não matar seus pais adotivos, os quais
imaginava que seriam seus pais biológicos), refugia-se em
Tebas, e lá desposa sua mãe, Jocasta, viúva do
falecido rei Laio.
Até
aí, sem novidades. Mas para permanecer no trono de Tebas,
Édipo tem de se submeter ao oráculo (aquele mesmo de
Delfos, mencionado no post abaixo). E o que o oráculo faz?
Impõe a Édipo uma jornada pelo conhecimento de sua
história de vida, uma jornada em busca da verdade, a qual, de
tão luminosa e cruel, fará com que o herói
arranque os olhos das órbitas e vague maldito pelo mundo, até
alcançar o perdão dos deuses... (continua no próximo
post).
(escrito
ao som de: Bob Dylan, Shelter from the storm).
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