Assim é
que a jornada de Édipo, muito antes de receber a conotação
sexual dada pelos psicanalistas, representa uma jornada de busca da
verdade pessoal, um sacrifício corajoso em busca da identidade
própria, tão prezada pelos gregos antigos.
Édipo,
como dizia no post anterior, desposara Jocasta, a rainha viúva
de Tebas, sem sabê-la sua mãe. Na condição
de rei, consulta o oráculo de Delfos durante uma peste que
assolava o seu reino, e este impõe a Édipo que encontre
o assassino do seu antecessor no trono de Tebas, o falecido rei Laio.
Como os gregos não costumavam desprezar nem vaticínios
nem incumbências dadas pelos Oráculos (vide Leonidas,
que se lascou contra os Persas após consultar o mesmo
oráculo), Édipo lança-se na investigação
proposta e sai em busca do autor da morte de Laio.
Ao fim e ao cabo,
descobre ter sido ele próprio quem o matara o rei Laio, e que,
muito pior, Laio era seu pai biológio, assim como a viúva que
desposara em Tebas, sua mãe. Desolado por conhecer a verdade
de sua existência, arranca seus olhos e passa a vagar pelo
mundo antigo, até que, após anos de exílio e
peregrinação, vem a ser perdoado pelos Deuses e consagrado como um herói, por ter tido a coragem de
“conhecer-se a si mesmo”.
Não é por acaso que a frase "Conhece-te a ti mesmo", segundo a tradição grega, e antes de ser apropriada por Sócrates, estava escrita no pórtico de entrada do Oráculo de Delfos.
Enfim,
essa leitura do mito, sobre a importância do autoconhecimento,
foi suplantada pela leitura da psicanálise moderna, de modo
que hoje Édipo é sinônimo de desejo sexual
incestuoso. Todavia, da leitura original do mito contado por
Sófocles, pode se extrair lição preciosa e
importante, principalmente para uma sociedade formada por pessoas sem
identidade própria: o caminho do autoconhecimento é
doloroso, exige coragem, mas é indispensável para que o
homem se liberte de uma condição de joguete do destino,
assumindo controle da própria existência.
(foto indicando o Templo de Apolo - vide foto no post "A origem do Filósofo Amador" -, onde ficava o Oráculo de Delfos, o qual foi consultado, dentre outros, por Édipo e Leonidas...)
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