"...Mas o quociente de dor que a gente sofre já não é chocante o bastante para não precisar de uma amplificação ficcional, que dê às coisas uma intensidade que é efêmera na vida e que por vezes chega a passar despercebida? Não para algumas pessoas.
Para umas poucas, muito poucas, essa amplificação, que brota do nada, insegura, constitui a única confirmação, e a vida não vivida, especulada, traçada no papel impresso, é a vida cujo significado acaba sendo mais importante..." (Philip Roth, Fantasma Sai de Cena).

sábado, 24 de janeiro de 2009

O INFINITO EM 3D

Hoje me assustei. Conversava com um amigo meu no msn; ele me contava sobre o novo site da empresa dele; mandou o link, e eu acessei.

Vi na página inicial um logo muito bonito, um visual assim espacial, e disse pra ele: "muito legal a página inicial". Ao que ele me respondeu:

"É O INFINITO EM 3D!"

Fiquei pasmado com a afirmação. Primeiro, eu não consegui desenhar na minha cabeça o infinito; imagina só, tanta coisa, num desenho... Depois, pra agravar, eu tive de pensar no infinito em três dimensões, com altura, com profundidade, com largura...

Meu cérebro simplesmente travou.

Como meu amigo deve ter percebido a minha dificuldade em compreender o conceito, ele me disse:

"É O OITO DEITADO".

Pronto, aí piorou... Como assim, o oito deitado? O que o número oito e o infinito têm em comum?

Será o número oito o resultado da equação misteriosa que - dizem os místicos - explicaria o funcionamento de tudo que existe (acho que vi um Arquixo X sobre isso, há mil anos atrás)...

Como meu desepero ficasse evidenciado nas inúmeras interjeições que dirigi ao meu amigo, ele resolveu amainar minha angústia e mandou o seguinte link http://pt.wikipedia.org/wiki/Infinito.

Finalmente uma explicação racional: o "oito deitado", me explicou a enciclopédia, é a Lemniscata de Bernoulli, também conhecida entre os matemáticos como a representação gráfica do infinito.

Diante disso, senti duas coisas: primeiramente, alívio por ter salvo meu cérebro (já que ele provalvemente não descansaria até desenhar o infinito em três dimensões); depois, me deparei com uma dúvida: será que me ensinaram isso na escola? Alguma vez eu utilizei o "oito deitado" em alguma equação perdida no passado juvenil?

Ou eu teria faltado ao bimestre letivo em que foi ensinada essa matéria? Eu estava usando drogas à época?

Onde está minha matemática, afinal?

De toda forma, pra não me sentir solitário em minha ignorância (creio ser uma tendência natural do ser humano procurar seus defeitos nos outros), eu perguntei a uma pessoa bem chegada: você sabe o que significa o "número oito deitado"?

A pessoa respondeu: "duas pessoas transando?"

Bem, a resposta não me consolou muito, porque eu, conhecendo o espírito elevado da pessoa que respondeu, sabia que ela deveria estar brincando comigo...

Então, respondi-lhe: "não, não são duas pessoas transando, é o símbolo do infinito". E a minha interlocutora afinal confessou: "sim, eu me lembro, tive isso na escola"...

Portanto, a conclusão que tiro disso é que perdi minha matemática; não sei onde ela está.

E existe uma parte boa em tê-la perdido: é que por um breve momento acreditei que o infinito, que toda matéria e todo vazio existentes, pudessem caber num desenho, num site, numa foto, num instante.

Vou sentir saudade desse momento.

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