Dizem que no Direito Penal existe o chamado benefício da dúvida, pelo qual a incerteza sobre
o crime deve beneficiar o réu.
Isso significa dizer: a dúvida não pode levar a uma condenação.
Nesse caso, portanto, há uma regra para lidarmos com a incerteza.
E, nas outras áreas da vida, o que fazer diante de uma dúvida?
Há quem, pensando que o dia vindouro pode não chegar efetivamente, decida viver intensamente o momento presente. Há quem, pensando no risco (incerteza) de um empreendimento, veja uma oportunidade inexplorada para alcançar o êxito.
Mas há aqueles que, deparando-se com a dúvida, sofrem com a angústia da incerteza, e preferem: a) não agir até ser superada a dúvida (angústia paralisadora); b) ou antecipar mentalmente a solução da dúvida, o que é feito, via de regra, de forma desfavorável (angústia da condenação antecipada).
Um exemplo dessa última situação: o candidato de um concurso está respondendo a primeira questão de uma prova dissertativa. Após transcrever sua resposta, depara-se com uma dúvida sobre a correção da idéia que apresentou. Em segundos, por conta da angústia, já não tem dúvida, mas uma pseudocerteza de que a resposta fornecida está errada.
A partir desse momento, tenha ou não acertado a primeira questão, a angústia do candidato dificultará que efetivamente tenha êxito nas demais questões.
Essa é a angústia da condenação antecipada. Ou seja, acredita-se piamente que a incerteza se resolverá na forma de uma derrota.
E é interessante notar o quanto usamos esse mecanismo.
Quantas vezes, ao nos depararmos com a incerteza em relação a um relacionamento afetivo, acabamos por antecipar um desfecho pior do que o efetivamente necessário? Tudo porque interpretamos os sinais dúbios do objeto de nosso desejo (e sempre são dúbios) em nosso desfavor.
Portanto, presumir indevidamente que já se perdeu a batalha pode precipitar uma derrota ainda não consumada. Mais grave ainda: isso pode determinar uma perda que poderia ser evitada com uma postura imparcial diante da incerteza.
A maneira de evitar a angústia da condenação antecipada? Quisera saber.
Mas duas ideias me acalentam boas esperanças. Uma é não deixar que o medo nos leve à fantasia. Isto é, o medo de perder, de não ser amado, de não ser reconhecido, deve ser tratado como parte integrante da vida, mas não pode conduzir à fantasia de que nenhuma batalha será perdida, pois isso só ocorre quando nenhuma batalha é disputada.
A segunda ideia é usar o benefício da dúvida: o que os dados do destino ainda não decidiram, não cabe a nós decidirmos antecipadamente.
Mas se quisermos pressupor um resultado, que o façamos, ao menos, em nosso favor, de forma a gozar do prazer de cada momento, enquanto os dados do destino ainda rolam na mesa do acaso...
(escrito ouvindo:
"Nas grandes cidades,
No pequeno dia-a-dia,
O medo nos leva a tudo
Sobretudo à fantasia...
Então erguemos muros
que nos dão a garantia
de que morreremos cheios
de uma vida tão vazia...." ).
sexta-feira, 5 de junho de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirOlá caro amigo!
ResponderExcluirCury diz algo nesse sentido: "só é possível escrever os principais textos das nossas vidas nos momentos mais dificeis de nossa exitencia, nos momentos de maiores duvidas..."
Bom texto!
Abç.
Hum... gostei! Acredito que a questão é manter um equilibrio entre os mecanismos de defesa que usamos, para que no final das contas ele curmpra com sua função de defesa/proteção do sujeito e não gerando ainda mais conflito interno.
ResponderExcluir:)