"...Mas o quociente de dor que a gente sofre já não é chocante o bastante para não precisar de uma amplificação ficcional, que dê às coisas uma intensidade que é efêmera na vida e que por vezes chega a passar despercebida? Não para algumas pessoas.
Para umas poucas, muito poucas, essa amplificação, que brota do nada, insegura, constitui a única confirmação, e a vida não vivida, especulada, traçada no papel impresso, é a vida cujo significado acaba sendo mais importante..." (Philip Roth, Fantasma Sai de Cena).

domingo, 30 de maio de 2010

Ninguém nos tira o vivido

Hoje é dia de indicações.

A primeira veio de alguém especial, e, tendo sido absolutamente aprovada (a indicação), repasso-a aos interessados em boa leitura: o texto "nadie te quita lo vivido", da psicanalista Diana Corso.

Foi publicado na Zero Hora de 26.05.2010. Ligação:

http://wp.clicrbs.com.br/terradonunca/2010/05/26/nadie-te-quita-lo-vivido/?topo=77,1,,,,77

A segunda indicação é minha última aquisição: Ferreira Gullar, Toda Poesia, da Ed. José Olympio. Obra da qual extraio:


A Alegria


O sofrimento não tem
nenhum valor.
Não acende um halo
em volta de tua cabeça, não
ilumina trecho algum
de tua carne escura
(nem mesmo o que iluminaria
a lembrança ou a ilusão
de uma alegria).


Sofres tu, sofre
um cachorro ferido, um inseto
que o inseticida envenena.
Será maior a tua dor
que a daquele gato que viste
a espinha quebrada a pau
arrastando-se a berrar pela sarjeta
sem ao menos poder morrer?


             A justiça é moral, a injustiça
não. A dor
te iguala a ratos e baratas
que também de dentro dos esgotos
espiam o sol
e no seu corpo nojento
de entre fezes
             querem estar contentes.

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