"...Mas o quociente de dor que a gente sofre já não é chocante o bastante para não precisar de uma amplificação ficcional, que dê às coisas uma intensidade que é efêmera na vida e que por vezes chega a passar despercebida? Não para algumas pessoas.
Para umas poucas, muito poucas, essa amplificação, que brota do nada, insegura, constitui a única confirmação, e a vida não vivida, especulada, traçada no papel impresso, é a vida cujo significado acaba sendo mais importante..." (Philip Roth, Fantasma Sai de Cena).

terça-feira, 8 de junho de 2010

O preço da segurança

Como uma amiga houvesse me perguntado “tudo bem? tudo bem, mesmo?” após ler o último post, resolvi desde logo escrever outro, este inspirando melhores humores.

Trata-se, em verdade, de uma citação colhida a esmo em um livro de estimação.

Mas não apenas uma citação, pois o texto é de Millôr Fernandes, escritor a quem não se pode atribuir qualquer predicado restritivo.


“Realmente, se você não atravessar a rua dificilmente será atropelado, se não entrar num avião é quase impossível que morra num desastre de aviação, se evitar correntes de ar terá menos resfriados, se não prevaricar manterá mais firmemente a harmonia do lar, se não beber cometerá menos desatinos, se gastar menos do que ganha terá sempre uma reserva para os dias difíceis, uma vida muito mais segura do que do estróina e pródigo. O preço da segurança é a eterna chateação”.


(Dos Riscos de Existir. Conversa com Rubem Braga. 1971)

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