"...Mas o quociente de dor que a gente sofre já não é chocante o bastante para não precisar de uma amplificação ficcional, que dê às coisas uma intensidade que é efêmera na vida e que por vezes chega a passar despercebida? Não para algumas pessoas.
Para umas poucas, muito poucas, essa amplificação, que brota do nada, insegura, constitui a única confirmação, e a vida não vivida, especulada, traçada no papel impresso, é a vida cujo significado acaba sendo mais importante..." (Philip Roth, Fantasma Sai de Cena).

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Provocações

Dia desses, recorrendo a um dos poucos canais de televisão cujos sinais são transmitidos aqui na Ilha (à exceção daqueles tantos que prometem "a-salvação-na-graça-do-senhor-jesus-aleluia-meus-irmãos" e o escambau...), caí no programa PROVOCAÇÕES (http://www.tvcultura.com.br/provocacoes/abujamra.htm).



Havia uma entrevista com um sujeito até então complemente desconhecido pra mim... Zéu Britto (o desconhecia mais pela minha ignorância do que pela falta de fama dele).

Se eu houvesse apenas escutado uma de suas músicas, talvez o achasse apenas ridículo (muitos devem conhecer o hit "raspadinha", que começa com "te empresto meu prestobarba baby..." e vai por aí afora - v. http://www.zeubritto.blogger.com.br)./

No entanto, certas provocações que ele fez - devidamente filtradas pela noção de que muito é marketing e só o resíduo parece ser sincero - não me permitem chegar a essa conclusão apressada.

Não vou comentar sobre tudo que ouvi, pois não valeria o tempo (o tempo de vocês, não o meu, que é infinito pra escrever....). Mas vou resumir tudo o que ele disse (e, por que não, o que ele representa) nas palavras finais que o Abujamra lhe permitiu dizer.

"...se você tem algum preconceito, se enterre, não viva. Porque a vida está cheia de pessoas e cada uma delas tem um jeito...".

Talvez não tenham sido esses os termos, mas foi isso que eu entendi e guardei. E, sobre isso, acho desnecessário tecer maiores comentários. Na verdade, faço apenas uma singela reflexão íntima: tudo que nos afasta do conhecimento empírico da vida não nos engrandece, apenas nos encerra num mundo hipotético (criado para nos proteger da dor da frustração).

Desculpe se não estou sendo claro - é isso que acontece quando a idéia vai surgindo enquanto escrevemos! - mas o sentido do parágrafo acima pode ser esclarecido assim: o mundo é rico em preconceitos, pois os preconceitos nos protegem de vivermos a dor do mundo real (frustrações, mágoas, angústia), e isso é uma consequência natural de uma sociedade que almeja o prazer absoluto, o sucesso absoluto e que - por via de consequência - marginaliza e retira a importância de tudo que está aquém desses parâmetros absurdos e irreais (que só convêm a quem?).

Deve ter ficado mais confuso ainda, não? Não importa. Estou falando sobre tentativa e erro. Tentando reviver a importância do erro. Logo, esse post não seria um reflexo verdadeiro desse meu momento - "eu que já não quero mais ser um vencedor..." - se não fosse confuso, se não "houvessem" erros...

Nem sei mais o que queria dizer quando comecei a escrever...
...e isso é ótimo.

Poema

A poesia está guardada nas palavras – é tudo que eu sei.
Meu fado é o de não saber quase tudo.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não tenho conexões com a realidade.
Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.
Para mim poderoso é aquele que descobre as
insignificâncias ( do mundo e as nossas ).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado e chorei.
Sou fraco pra elogios.


(Manoel de Barros).

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