Última quarta, em uma festa em um lugar absolutamente civilizado, um desconhecido, no empurra-empurra-de-um-lugar-pequeno-com-gente-demais, me interpelou abruptamente: "não me empurra, babaca..." Ao que respondi: "não empurra você..." E o colóquio seguiu-se por mais algumas trocas de ameaças e ofensas, culminando em um "vai te f..."
Saí daquela situação pensando na brutalidade absurda da vida. Como, em uma questão de segundos, tudo pode virar de ponta cabeça: um momento de alegria pode acabar em tristeza. Minha imaginação já me levou para a hipótese de aquela conversa terminar em briga, de a briga terminar na polícia, e de tudo parar na imprensa marrom...
Interessante foi eu ter me deixado levar pela brutalidade da situação, ainda que por alguns instantes. Com certeza não sopesei minimamente o que podia perder em responder qualquer coisa a uma pessoa brutalizante.
Sim: as pessoas que estão dormindo o sono da razão (parafraseando Goya), como aquele indivíduo naquela festa, tendem a espalhar brutalidades pelo mundo, logo são brutalizantes.
Não preciso descer a minúcias para explicar como se comportam os indivíduos brutalizantes, todos os conhecem - de bullies a pitboys -, mas me parece que todos eles tendem a se apoiar em uma pseudo-autoridade, comumente ligada à força física ou ao poder econômico, que funciona no fundo como um disfarce à auto-estima patologicamente debilitada. Assim é através da violência contra o outro que aquela criança carente de amor parental consegue se sentir existente no mundo...
Ou...
...ou nada disso faz sentido, e não há de fato explicação razoável para pessoas que se comportam brutalmente com as outras, afinal, como diz Ferreira Gullar, a justiça é moral; a injustiça não.
p.s.: brutalizante aparece grifado em vermelho no editor do meu blog; e as opções de palavras semelhantes são: "brutamonte", "brutalmente" e "anabolizante"... Coincidência?
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