"...Mas o quociente de dor que a gente sofre já não é chocante o bastante para não precisar de uma amplificação ficcional, que dê às coisas uma intensidade que é efêmera na vida e que por vezes chega a passar despercebida? Não para algumas pessoas.
Para umas poucas, muito poucas, essa amplificação, que brota do nada, insegura, constitui a única confirmação, e a vida não vivida, especulada, traçada no papel impresso, é a vida cujo significado acaba sendo mais importante..." (Philip Roth, Fantasma Sai de Cena).

terça-feira, 20 de julho de 2010

Pelo campo de centeio

No frio primitivo da minha Twin Peaks medieval, terminei "O apanhador no campo de centeio".

Uma reflexão me exigiria mais do que posso dispor agora. Assim recorto uma parte importante, pra compartilhar (às vezes apenas contemplar é melhor do que analisar, não?).

Quem começa falando é Holden Caulfield, o protagonista (ele tem dezessete anos e está conversando com sua irmãzinha):


"Você sabe o que eu quero ser? - perguntei a ela. - Sabe o que é que eu queria ser? Se pudesse fazer a merda da escolha?
- O quê? Para de dizer nome feio.
- Você conhece aquela cantiga. 'Se alguém agarra alguém atravessando um campo de centeio'? Eu queria...
- A cantiga é 'Se alguém encontra alguém atravessando um campo de centeio"! - ela disse. - É dum poema do Robert Burns. 
- Eu sei que é dum poema do Robert Burns.
Mas ela tinha razão. É mesmo 'Se alguém encontra alguém atravessando um campo de centeio'. Mas eu não sabia direito.
- Pensei que era 'Se alguém agarra alguém' - falei. - Seja lá como for, fico imaginando uma porção de garotinhos brincando de alguma coisa num baita campo de centeio e tudo. Milhares de garotinhos, e ninguém por perto - quer dizer, ninguém grande - a não ser eu. E eu fico na beirada de um precipício maluco. Sabe o que eu tenho que fazer? Tenho que agarrar todo mundo que vai cair no abismo. Quer dizer, se um deles começar a correr sem olha onde está indo, eu tenho que aparecer de algum canto e agarra o garoto. Só isso que eu ia fazer o dia todo. Ia se só o apanhador no campo de centeio e tudo. Sei que é maluquice, mas é a única coisa que eu queria fazer. Sei que é maluquice."

2 comentários:

  1. e para onde vão os patos quando o lago se congela ?

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    1. vôam para outra região que não esteja no inverno. Vôam para o Sul.

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