Dia desses fui ao mercadinho. Pedi um chiclete, "de que sabor", perguntaram. Olhei rapidamente para o único exemplar à venda, li a indicação estampada na embalagem e respondi: "sabor fruta". Gentilmente me foi alcançado o chiclete. Cheguei em casa e fui conferir se não havia me enganado: "sabor fruta"?
Sim, a informação estampada na embalagem sobre o sabor do chiclete era essa, e tão-somente essa: "sabor fruta". Não era "fruta disso" ou "fruta daquilo" era simplesmente "sabor fruta". Li todas as letras diminutas da embalagem. Nada indicava afinal qual era a fruta que dava sabor à goma.
Peço licença à fabricante pra transcrever:
"Goma de mascar de valor calórico reduzido sabor fruta. Colorida artificialmente. Chicle reducido en calorias sabor a fruta".
No verso, nem sinal de alguma maçã pêra pêssego nos ingredientes.
Meditei sobre o ocorrido. Conclusão: o mundo ruma à síntese absoluta. A internet nos fez abreviar a comunicação de uma forma radical e isso transcendeu o ciberespaço. Temos urgência em sintetizar tudo, reduzir ao máximo os símbolos ordinários, pois quanto menos palavras se escreve, mais rápido se digita. O ideal é chegar-se um dia ao símbolo que diz tudo: dirá ao mesmo tempo, com uma única tecla, "oi", "tudo bem", "quero te ver" e responderá a si mesmo "oi", "vou bem" "a que horas?".
O tutti-fruti era um símbolo grande demais, até mesmo para designar o sabor de um reles chiclete. Hoje tutti-fruti é over. Por isso acabou. Deu lugar a um genérico, perturbador e enigmático: sabor fruta.
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